Cão terapeuta muda rotina escolar


11/10/2009

Uma família de cães está mudando a rotina escolar em Campinas. Agora, além de visitar hospitais e entidades que atendem carentes, os cachorros da raça golden retriever do Projeto Medicão, da Art & Nic - Centro de Treinamento e Formação de Cães Terapeutas, eles interagem também com estudantes. O Medicão iniciou há dois meses um trabalho com escolas e universidades. O projeto, pioneiro em Campinas e multidisciplinar, envolve profissionais de educação e saúde, e a primeira experiência, muito bem-sucedida, está sendo feita no Colégio Provecto, da rede particular, com crianças da 6ª série.

Para o adestrador e coordenador do projeto desde que surgiu, em 2003, Hélio Rovay Junior, de 37 anos, a interação dos cães com as crianças é muito importante. “Inicialmente, íamos somente em hospitais e entidades, e isso deu muito certo. Vimos que, naquele caso, o encontro do animal com a criança ou adulto internado promovia o bem-estar, melhorava a capacidade motora e autoestima, diminuía a ansiedade e a quantidade de medicamentos, além de diminuir as tensões da equipe de trabalho”, disse.

Como era algo que só trazia ganhos para todos, eles resolveram expandir a proposta e proporcionar essa atividade também no ambiente escolar, em todos os níveis de ensino. “Nos hospitais e entidades, o trabalho é completamente voluntário. Já, agora, com essa nova ideia de levá-los nas escolas e oferecer palestras nas universidades, é preciso que haja um interesse da instituição, pois é um trabalho pago, com contrato de acordo com as necessidades de cada uma.”

Parceria

A expectativa é promover a integração entre os cães e os estudantes também nas escolas públicas, mas ainda não há nada definido. “Estamos tentando uma parceria com a Prefeitura de Campinas e com a Secretaria de Estado, para que possamos atender escolas públicas também. Mas, para isso, é necessário uma ajuda de custo para as visitas”, afirmou Rovay Junior.

Mas o adestrador e coordenador da iniciativa está otimista com a expansão do projeto. “Pelo que já pudemos observar isso vai ser muito bacana, pois existem diversas maneiras das escolas, por exemplo, trabalharem esse entrosamento, inclusive depois, em sala de aula.”

Segundo ele, o motivo de todos os cães terapeutas serem da raça golden retriever é a capacidade de interagir com o ser humano. “Essa é a raça que mais se encaixa em docilidade e concentração. Eles têm o temperamento calmo e são muito obedientes”, acrescentou.

Elisângela Campelo, de 34 anos, é coordenadora pedagógica do Colégio Provecto e também participa das ações do Medicão. “Quando eles falaram em levar os cães para as escolas, já coloquei a nossa à disposição. Acredito muito nesse trabalho. Esse contato proporciona muitas coisas boas, como o entrosamento dos alunos com os cães, dos alunos com os próprios alunos e nas matérias em sala de aula em que podemos abordar o assunto” , disse.

A educadora está certa de que essa novidade é muito benéfica. “Nós estamos sempre em busca de tudo aquilo que possa contribuir com o aprendizado dos nossos alunos. E, se o projeto faz isso, desenvolve relações e eles gostam, não tem porquê não aderir.”

Expectativa

No segundo encontro, que está sendo feito mensalmente no Colégio Provecto de Campinas, os alunos da 6ª série, professores e funcionários estavam na expectativa para rever os pais Mel e Boby, suas filhas Brenda e Hanna, e os primos Oliver e Ayla novamente. Na primeira vez que teve contato com os cães, a aluna Amanda Novo, de 12 anos, ficou com medo de chegar perto. “Acho que isso só ajuda a gente. No segundo encontro, já consegui brincar mais e passar a mão neles. São muito bonzinhos”, disse.

Matheus Garcia, de 12 anos, também aprova as visitas. “Eles interagem com a gente e brincam também. É muito gostoso isso”, disse. Os amigos Felipe da Silva e Guilherme Oliveira, de 12 e 13 anos respectivamente, acham que o cachorro pode ser um grande amigo para o homem. “É muito bom estar aqui com eles e, depois que vão embora, nós fazemos muitas atividades relacionadas com a visita”, disse Felipe. Já Guilherme gosta da forma diferente de estar na escola. “A gente se diverte, distrai e depois comenta nas aulas. Acaba um encontro e nós já queremos o próximo.”

SAIBA MAIS

Para garantir o sucesso do Medicão, todos os cachorros são cadastrados e adestrados, e têm os certificados de vacinas e vermifugação renovados mensalmente. Existe ainda um procedimento de higienização feito antes de cada visita, em que os cães tomam banho com um xampu hipoalergênico. Todo esse procedimento já é suficiente para garantir a saúde das crianças, acompanhantes e profissionais que entram em contato com os animais. Mais informações sobre o trabalho estão no site www.projetomedicao.com.br.

PONTO DE VISTA

Aldvan Figueiredo
Psicóloga

Afeto, interação e estímulo

Acho a ideia da convivência dos cachorros com as crianças maravilhosa. Fiquei a pensar na delícia que é receber carinho de um ser que tem calor, pelo, respiração, olhar, cheiro, movimento e batimento cardíaco. Comecei a lembrar do colo de mãe, das sensações quando tocamos as pessoas que amamos. Pensei em tantos outros que são rejeitados e estigmatizados pela aparência ou pelo fato de estarem nos hospitais psiquiátricos, nos abrigos e assim por diante. Esta interação sem compromisso do dar e do receber, onde cão e paciente podem se sentir sem cobranças e sem críticas num ato involuntário de afeto é certamente terapêutico. Levando para o lado da estimulação, é muito rico para todos os que precisam. As mãos tem vários pontos de estímulo que, ao serem tocados pelo pelo do animal desencadeiam uma tempestade de emoções conscientes e inconscientes. Os animais sentem o carinho e a acolhida humana e retribuem o afeto através do comportamento. Ter um cão terapeuta pode ser uma excelente ideia e uma oportunidade de exercitarmos e desenvolvermos o nosso lado humano e aumentarmos a socialização. Somos seres humanos que necessitamos resgatar as pequenas coisas da vida e diminuir a solidão que, sem perceber, deixamos crescer nos bastidores da vida em sociedade.


Autor: Carolina Cunha
Fonte: Correio Popular

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