Memórias que não foram divulgadas
"Vi a foto da praça de Calumbi e me senti triste. Fiquei a recordar o esforço de Tia Dolfa, D.Amélia, Adolfina Cordeiro, Tia Alice, D.Maria de Doça, D.Luzia Brás, D.Mariqueza e outras mães que plantaram e regaram aquelas plantas que alegraram as nossas brincadeiras de criança e da nossa juventude. O autor deste crime não deve ter visto estas árvores crescerem nem tampouco se abrigou nelas na sua juventude. O progresso não justifica um ato retrógrado como esse."
Elza Simões de Farias
07 Setembro, 2009
Fonte: http://ranilsonnoticias.blogspot.com
Em cada canto uma oportunidade para entender nossa história política, cultural, social e psicológica.
Ao ver o desabafo de D. Elza os registros da memória foram resgatados automaticamente. O que em poucas palavras esta senhora coloca para os internautas? Que personagens ela cita? Quem foram estas mulheres? Por que mulheres? Que importância elas teriam na nossa vida?
A tristeza de D. Elza é a de tantas e tantas pessoas que acreditam que tudo vai continuar no mesmo lugar. Que as imagens do passado vão permanecer congeladas e que o futuro é algo vivido somente nas telas de cinema. Talvez o tempo do qual ela retrate seja das lembranças de uma vida que devesse ser eterna. Que as trilhas de uma adolescência não foram às melhores escolhas, ou as escolhas idealizadas, ou que não se teve tempo de retratar e contar as histórias de um povo que há muito tenta construir um novo mundo.
“Tia Dolfa, D. Amélia, Adolfina Cordeiro, Tia Alice, D. Maria de Doça (Eudóxia), D. Luzia Brás e D. Mariqueza” são personagens de um mundo real. Todas elas mulheres de grande fibra. Mulheres que fizeram a diferença no sertão de Pernambuco. Vamos resgatar suas lembranças em cada banco da cidade, ou melhor, de cada monumento das árvores que foram retiradas. Vamos resgatar nossas histórias.
Elas moraram no coração da cidade, ao lado da igreja matriz, ajudaram a construir os jardins da praça. Mulheres simples, donas de casa, viveram para a família e para a pequena cidade de Calumbi.
Sabe D. Elza, acredito que todos nós falhamos! Talvez nossos filhos tenham escutado muitas histórias da Disney, da Carochinha, dos Irmãos Grimm, mas não tiveram tempo de escutar as histórias do nosso povo. Das pessoas que no anonimato contribuíram para as lembranças de pessoas como à senhora.
Mas, ainda temos tempo de retomar as histórias. De olhar para cada mulher guerreira e construir suas sagas. Podemos resgatar o que eram, o que se tornaram, o que viveram e o que desejavam.
O tempo das brincadeiras de criança e da vossa juventude não existe mais! Mas ele pode se tornar eterno através dos contos e das letras, ele pode virar livros, peças de teatro e canções. Nós escolhemos o que queremos fazer das nossas lembranças. Tem pessoas que querem libertá-las, outras apagá-las, outras negá-las, ou fazer de conta que nunca existiram. Ainda assim viveremos com elas! Isto é história!
Fico a pensar quais são as histórias de Calumbi? Não serão as mesmas de qualquer lugar? Não!!! Cada lugar tem a sua própria história. Têm suas particularidades, sua personalidade marcada pelas idéias, pensamentos, modos de serem, características e vontades de seu povo que há milhares de anos labutam em seu solo.
“O autor do crime” não tem consciência da sua ação porque no pico da sua criação idealiza uma Calumbi altiva e futurista. Sendo assim, ele é como todos nós, cada um com o seu crime! Uns de silenciar a história do seu povo por ter vergonha dos seus feitos. Outros por ter medo. Outros por idealizar sozinhos e acreditar que os seus projetos pessoais serão os mesmos do seu povo.
Através de todas estas linhas retrato-vos que a cidade de Calumbi está fragmentada. Ou melhor, doente! Seu povo anda perdendo a sua identidade, esquecendo que a praça é o núcleo da célula desta cidade. Olhem com sendo estas árvores o seu DNA e RNA. Estamos falando de sentimentos profundos ligados a alma e a psique. Aos registros de um povo e de toda a sua cultura.
Estamos retratando a distância administrativa dos políticos e da participação do seu eleitorado nos seus projetos. Uma cidade precisa sempre dos seus anciões para compartilhar suas angústias. Teimamos em não ouvi-los, mas a dor nos mostra que as histórias são grandes aliadas para quem quer ter vida próspera.
O que fazer?
Das árvores que foram retiradas podem-se fazer monumentos. Pegar os troncos e restaurar, aplicar veniz e deixá-las como obras de arte. Fazer delas pontos de atração e ao lado delas incentivar o povo a contar suas histórias de vida. Transformar o ato em atitude. Recuperar o tempo perdido e reverter tragédia em mito.
“O progresso não justifica um ato retrógrado como esse.”
Ele não pode justificar!!! Mas tentamos. No entanto, atos de coragem demonstram que ele não deve acontecer. Podemos trazer o progresso para ampliar os nossos sonhos e desejos. Para transformar nossas idealizações em ações. Para construir e ter uma vida mais confortável.
Que tal fazer uma campanha em prol do verde? Que cada um comece pela sua porta plantando, no vaso ou no chão, árvores e flores.
“Depende de nós
quem já foi ou ainda é criança
quem acredita ou tem esperança
quem faz tudo prá um mundo melhor...”
Aldvan Alves Gomes (antes)
Aldvan Alves Figueiredo (agora)
quem já foi ou ainda é criança
quem acredita ou tem esperança
quem faz tudo prá um mundo melhor...”
Aldvan Alves Gomes (antes)
Aldvan Alves Figueiredo (agora)