Trote? Brincadeira? Sarro? Sadismo? Cumplicidade? Selvageria?

Pode-se dizer que o trote é tão velho quanto o primeiro império. De acordo com Mattoso temos registros das turmas que estrearam nas faculdades de direito em Pernambuco e em São Paulo. A primeira vítima fatal por causa de trote de que se tem registro no país aconteceu em 1831 em Olinda-PE.

Fiquei curiosa, entre bochichos e expressões de sentimentos pelas vítimas e pelos algozes e resolvi pesquisar de onde vem tal fato, ou tais fatos. De onde surgiu o trote? O que é um trote? Por que não se humaniza o trote? O que nos faz aceita-lo? Por que permitimos? Estas perguntas já foram realizadas e reelaboradas desde a época do império. Muitos foram os esforços para humanizá-lo com poucos resultados.

Trote? Brincadeira? Sarro? Sadismo? Cumplicidade? Selvageria?

Seja com a expressão que desejar é um ato que vem causando muitas discussões desde 1342. Um costume que veio da Europa e se espalhou pelo Brasil.

Lamenta-se que diante de tantas mentes brilhantes cognitivamente, de tantas tecnologias e descobertas científicas, nós humanos ainda continuamos presos nas cavernas, não mais da natureza, e sim de um inconsciente coletivo que tarda ou se nega a evoluir.

Certo ou errado não nos cabe julgar, pois muito perdemos em julgamentos e omissões, cabe-nos no momento existencial que vivemos evoluir o lado emocional e humanizar nossas relações com o outro. Investir em ações, atitudes, pesquisas no campo das relações interpessoais muito mais do que temos estudado. Sair da teoria e ir para ações práticas. Nas consultorias realizadas para empresas, escolas, famílias, tenho feito as seguintes perguntas: -Quais são os valores humanos que você vive?
-Quais os valores humanos que você idealiza ou admira?
- Você já perguntou para sua equipe ou para sua família que valores você realmente executa nas ações diárias?

O trote talvez remeta à falta de respeito, ou a incapacidade de reconhecer no outro a parte divina e sagrada que cada um de nós tem, fundamentalmente por ser humano e dotado de particularidades magníficas.

Vivemos numa era preciosa onde o maior e grandioso arsenal a ser realmente descoberto e aprimorado somos nós, os humanos! Que hoje se encontra aprisionados nas cavernas profundas do nosso ser consciente, subconsciente e inconsciente.

Talvez depois de descobrirmos a nós mesmos possamos descobrir a repetição da crueldade que desde 1342 insistem ter alguns trotes, vivenciados em nossos lares, em nossos ambientes de trabalho e no mundo.

Enquanto fingirmos para nós mesmos que nada acontece, que esta tudo bem, que é assim mesmo não poderemos evoluir nas esferas das emoções e dos sentimentos. É necessário desenvolver o diálogo a partir dos lares, das escolas, das religiões, das empresas, onde existirem pessoas.

Falar de trote é falar de representações de comportamentos aprisionados e envolvidos de sofrimento psíquico.

O sofrimento psíquico é a maior fragilidade do homem, pois diante dele nos perdemos na imensidão do universo limitado pelos valores humanos, pela consciência e pelas mãos e abraços do amor incondicional.

Aldvan Figueiredo

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